Por Trás das Coisas



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ESTAMOS numa constante lutar para manter nossos papeis. Somos atores de nossas próprias vidas. Criamos personagens de nosso próprio eu. Tentamos, das mais diversas formas possíveis, convencer a todos - incluindo nós mesmos - de que nossa atuação é sincera, verdadeira. 
   A concepção de que vivemos nesse palco de encenações não é nova. E, na atualidade, diversos pensadores abordaram o assunto. Erving Goffman, por exemplo, escreveu em "A representação do eu na vida cotidiano" (1959, em inglês) sobre esse teatro, onde tentamos prever a reação do público, ou seja, dos que nos observam. Procuramos fingir, com a maior perfeição possível, nossa sinceridade para que os outros não percebam através dos detalhes que estamos encenando.
   Na psicologia, se utiliza a técnica do psicodrama para ajudar os pacientes a compreenderem a si mesmos e a forma como eles enxergam os que vivem a sua volta. Pode-se dizer, em termos simples, que o teatro é um exercício para a personalidade. Aos poucos, depois de tanto praticarmos, fortalecemos e absorvemos os papeis aos quais estamos atuando.
   Isso não quer dizer que sejamos todos hipócritas e falsos. Mas, para sermos nós mesmos, precisamos conviver com o que os outros entendem sobre nós. Portanto, precisamos trabalhar com um "público". E, dependendo das circunstâncias, nossos papeis precisam ser bem diferentes. Quanto mais plástico formos, mais flexibilidade teremos para conviver na sociedade.
   De fato, ao observamos as atitudes e características de alguém, na verdade estamos visualizando sua atuação naquelas circunstâncias. O porquê de agir daquela forma e com qual finalidade está por trás, nos bastidores. Logo, julgar apenas por uma cena em si pode nos levar a diversos erros e maus-entendidos. 
   Cada pessoa é um mundo. Somos como um livro, cheio de histórias, ideias, sonhos e pensamentos. Alguns, estão bem escritos. Outros, não. E, ao nos projetarmos na sociedade, nem sempre conseguimos expor aquilo que realmente desejaríamos ser. Nem todos são bons atores. E nem toda platéia é consciente. De uma forma ou de outra, nesse jogo de encenações, o show tem que continuar.



De Alexandre Valério Ferreira



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