Tudo e Nada


Imagem: Lucas Zimmermann

ERA UMA VEZ, a pouco tempo atrás - na verdade, ontem - um semáforo muito estranho. Ele controlava tentava controlar o tráfego no cruzamento de duas avenidas de alto fluxo. Seu trabalho era simples, ainda assim, muito importante.
   Um dia, esse dito semáforo começou a desenvolver consciência de si e da sua importância. Logo, passou a ter ansiedade. O problema é que ele pensava demais em todos os carros, motos, ônibus, caminhões e pedestres. Claro, seu dever era resguardar a todos e, para isso, mantinha um fluxo seguro de veículos e pessoas.
   Entretanto, ele começou a tentar agradar a todos. Nesse tentar, sua coloração mudava de forma irregular. Às vezes, pulava do vermelho para o verde. Em outros momentos, ele trocava do amarelo para o verde. Tinha boas intenções: via alguém com pressa ou desejava facilitar o caminhar de um idoso. Só queria ajudar da melhor forma possível.
   Infelizmente, querer agradar a todos é o mesmo que agradar a ninguém. De tanto ele se preocupar em sanar o estresse de cada um, passou a mudar os indicadores muito rapidamente. As luzes mudavam tão rápido que pareciam constantes, invariáveis, a olho nu. Somente com uma câmera notava-se que ele estava trocando de vermelho para verde a mais de 500 vezes por segundo. 
   Isso não durou muito tempo. Primeiro porque o cruzamento tornara-se um campo de guerra, ou melhor, parecia aqueles jogos de quebra-cabeça complexos. Um nó cego de veículos. A loucura tomou de conta. Batidas aconteceram, o que tornou o congestionamento avassaladoramente pior.
   Segundo, o circuito do semáforo não suportou. Queimou! Morreu! Pifou! Curto-circuito fatal. Era uma carga tão grande de informações, que a placa de circuito impresso não suporto e os fios de cobre não eram projetados para uma amperagem tão grande. A corrente foi demais.
   Pobre semáforo. Tão ansioso que era, tentava agradar a todos. Mas, no final, não conquistou ninguém. Muito pelo contrário, se destruiu. Queria eu que ele tivesse se apercebido antes da espiral na qual ele havia entrado. Infelizmente, não deu tempo. Não foi possível fazer nada. Tudo já estava perdido.


De Alexandre Valério Ferreira

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