Desistir

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Por Alexandre Valério Ferreira

TALVEZ UMA DAS mais dolorosas lições que temos de aprender na vida é desistir. Sim, a palavra costuma ter uma conotação negativa. Em geral, é associada à fraqueza, ao medo, à covardia. Talvez, em alguns casos, tal relação seja verdadeira. Mas não em todos.
   Dói. Dói muito desistir. Desistir carrega consigo uma montanha de sentimentos que dilaceram o nosso íntimo. Abandonar algo que tanto almejamos e prezamos é uma tortura visceral. Pior ainda: quem precisa fazer essa cirurgia em nosso íntimo é nada mais nada menos do que nós mesmos.
   Saber quando arar é essencial para o amadurecimento. Nem todas as lutas são válidas. Nem todo esforço é realmente necessário. Precisamos deixar algumas coisas para lá. Tem casos que o processo de expurgo é essencial. Envolve a preservação de nosso ser, do nosso eu interior. Enfim, de nossa própria sanidade. Desistir nem sempre é covardia. Pelo contrário, pode ser um dos atos de maior coragem.
   Do que é preciso desistir? De amizades tóxicas, de crenças limitantes, de relacionamentos de mão única, de gente interesseira, de batalhes inúteis. Se a vida é uma constante batalha, é preciso desistir de algumas brigas para vencer a guerra. Perde-se algo agora para conseguir outra coisa melhor à frente.
   Desistir é assustador. O mais cômodo é permanecer no que é já conhecido. São as amizades que já temos, a personalidade que já desenvolvemos, o emprego que já conseguimos. Enfim, mudar sempre é difícil. Como já bem dizia Newton, o corpo tende a permanecer no seu estado inicial. Uma força precisa ser exercida para alterar a realidade.
   Desistir não é ser fraco. Pelo menos, nem sempre. Abandonar uma crença limitante é essencial para recuperar-se de um transtorno psicológico. Pode ser difícil deixar uma forma de ser e agir quando se acredita que é o único meio ou que não tem como mudar. Ainda assim, é necessário desistir delas.
   Desistir parece um tiro no escuro. Mas, veja bem: talvez você já esteja em uma escuridão e não se perceba. Quem sabe você já sente que existe algo errado, que nada vai para frente, que há algo errado com você. Talvez seja hora de desistir.
   Desista do que te impede de crescer. Desista de amizades que só te sugam ou que dão a mínima para você. Desiste de um relacionamento onde só você faz empenho. Desista de tentar agradar todo mundo. Desista de achar que precisa ser perfeito. Desista de achar que não precisa de ninguém. Desista de ser orgulhoso. Desista de achar que você é inútil e que sua vida não tem valor. Desista de supor que não há mais saída. Desista de reviver eternamente o passado. 
   Desistir é saber escolher. Precisa-se de maturidade para reconhecer aquilo pelo qual se empenhar e o que deve ser deixado de lado. Tenha calma. O medo é a maior arma da acomodação. Não se engane com ele.
   Desistir é deixar o peso inútil para trás. É se desamarrar de laços que escravizam. Consiste em largar-se no que vem pela frente, nas novas oportunidades. É arriscado? É sim. Muito. Mas para alguns casos não desistir é fugir do risco e confirmar a condenação de nossos caminhos. Então, desista do que é ruim e não desista da essência que vale a pena.

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